terça-feira, 16 de setembro de 2014

Sobre Lovelace

O nome em si é um ícone dos anos 70. Para quem nunca ouviu falar, o título do filme deriva da história de uma das atrizes de maior sucesso da indústria de filmes pornográficos, Linda Lovelace. Muitos talvez vejam o filme puramente pela curiosidade do que seria a produção de um longa e de uma estrela pornô. Mas a história é muito mais do que isso.

Um olhar dramático na vida de Linda Lovelace, cujas habilidades no sexo oral deram o título ao grande sucesso "Garganta Profunda", "Lovelace" é um filme difícil de se ver, mas não de terminar. Mostra o retrato de um momento específico na cultura pop americana, quando muitos tabus começaram a ser removidos. Como o fenômeno aconteceu a 40 anos atrás, é difícil imaginar o quão chocante ele foi, a ponto de ser discutido em talk-shows, recebido uma crítica no New York Times e zombado por comediantes na TV. 



Com "Lovelace", os diretores Rob Epstein e Jeffrey Friedman mostraram principalmente uma perspectiva dolorosa de como uma moça pode ter sua vida completamente fora de controle. Talvez até os mais conservadores concordem que a pornografia foi a parte mais "leve" de toda a história. No roteiro de Andy Bellin, vemos uma jovem Linda Boreman (Amanda Seyfried), cujos pais, especialmente a mãe (interpretada por Sharon Stone a ponto de ser quase irreconhecível), educavam com rédeas curtas e princípios católicos conservadores. 

A vida de Linda muda quando o charmoso Chuck Traynor (Peter Sarsgaard) aparece. Um homem com a lábia e o estilo de um cafetão, ele casa com Linda antes de fazê-la seu ganha-pão. Para sair do aperto financeiro - causado pelo pagamento de sua fiança - ele a vendeu para um homem e depois a forçou a fazer o filme, que acaba se transformando no grande sucesso e lançando Linda no estrelato. 

Quando o filme chega ao ápice da carreira de Lovelace, os diretores voltam para o início e mostram como todo o processo foi acompanhado de violência e abusos por parte de Chuck. O público então passa a ver as surras e a intimidação sofridas por Linda. Vê também que "Garganta Profunda" causou grande impacto não só na cultura pop americana, mas nos pais de Linda. 

Os cineastas nos mostram um clássico caso de uma vítima de abuso. O personagem de Amanda Seyfried tem o desejo latente de agradar a todos, pré-condicionada por uma mãe ríspida e dura a aceitar qualquer tipo de amor que puder encontrar. Por esse motivo a lábia de Chuck Traynor lhe parece sincera o bastante para que ela seja extremamente ligada a ele mesmo depois de seus abusos e de, literalmente, prostituí-la várias vezes. 

"Lovelace" é um filme duro. Um exemplo de quão desumano um homem pode ser com uma mulher e como a pornografia em si é, muitas vezes, uma forma de violência contra as mulheres. Algo que, estranhamente, parecemos esquecer.


Abs,
Vanessa Múrias

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